MOVIE SCENE SENSING EM USO
Testamos o Movie Scene Sensing com o filme Kill Bill Vol. 1 (2003), de Quentin Tarantino, conhecido por sua fusão de estilos visuais e narrativa não linear. A ferramenta processou 1.945 keyframes, extraídos em transições visuais e compositivas, capturando os momentos mais representativos do filme.
Explorando Kill Bill I com visão computacional
IDENTIFICANDO OS CLUSTERS
Esses keyframes foram organizados em 27 clusters, evidenciando padrões estéticos, narrativos e temáticos presentes na obra.
Os clusters foram classificados em três categorias principais: (1) enquadramentos e estilos de câmera característicos de Tarantino; (2) referências visuais e temáticas, ligadas a gêneros como spaghetti western, animes e cinema de artes marciais; e (3) arcos narrativos centrados em personagens, que estruturam a história. Essa segmentação reflete as escolhas estéticas e narrativas do filme, capturadas pela ferramenta, e pode ser aplicada à análise de outras obras com estilos igualmente complexos.
ESTILOS DE CÂMERA AS MARCAS VISUAIS DE TARANTINO
Olhando para os clusters agrupados por similaridade compositiva, podemos identificar os estilos de câmera e enquadramentos recorrentes que refletem o estilo visual de Tarantino e suas influências cinematográficas.
Feet and Shoes
Reúne cenas que mostram a obsessão visual de Tarantino por pés, como Beatrix tentando recuperar os movimentos após o coma, passos em momentos de tensão (como a chegada de Budd à Two Pines Chapel), batalhas com O-Ren Ishii ou a fuga do hospital no Pussy Wagon.
Extreme Eye Close-ups
Agrupa close-ups intensos nos olhos, inspirados nos duelos de spaghetti westerns de Sergio Leone e na estética dos animes. Esses enquadramentos aparecem em confrontos chave, como entre Beatrix e O-Ren Ishii, na luta com os Crazy 88, com Gogo Yubari e nos flashbacks animados que narram a origem de O-Ren.
REFERÊNCIAS ESTÉTICAS FUSÃO DE GÊNEROS E ESTILOS
A ferramenta também identificou clusters que capturam referências estilísticas explícitas de Tarantino, incluindo gêneros cinematográficos e escolhas cromáticas específicas.
Yellow Bruce Lee
Este cluster reúne frames que destacam o traje amarelo de Beatrix, um tributo direto ao figurino de Bruce Lee em Game of Death (1978).
Anime
O MSS separou claramente a sequência animada que narra a origem de O-Ren Ishii, destacando o contraste estilístico em relação ao restante do filme. Essa escolha reflete a influência de animes como Ninja Scroll e Ghost in the Shell. O modelo reconheceu como essa transição de linguagem visual altera o tom da narrativa sem romper a coesão do filme.
Close-ups in Yellow and Red
O Movie Scene Sensing também conseguiu capturar a paleta vibrante que remete tanto ao spaghetti western quanto aos filmes de samurai. A justaposição entre amarelo e vermelho é usada em momentos de ação para intensificar a sensação de movimento, batalha e perigo, algo recorrente no trabalho de diretores como Akira Kurosawa, cujas obras influenciaram diretamente a estética de Tarantino.
A terceira categoria de clusters reflete a organização narrativa do filme, centrada em arcos de vingança conectados aos personagens principais. A ferramenta conseguiu capturar os momentos-chave de cada arco, permitindo explorar como eles se desdobram visual e narrativamente.
A ferramenta foi capaz de separar visualmente as cenas pela identificação de presenças recorrentes de personagens dentro de um mesmo ambiente. Isso demonstra como o modelo detecta variações estilísticas sem perder o foco no que é central nas cenas.
O MMS identificou os frames do primeiro confronto de Beatrix com Vernita Green, que ocorre em uma casa suburbana. A justaposição entre elementos domésticos e a violência ressalta o contraste estético com as demais ambientações das vinganças no Volume 1.
Foram localizados arcos de Hatori Hanzo e Budd no massacre da capela Two Pines e também subgrupos de personagens associados ao arco principal do filme – House of Blue Leaves –, identificando cenas de batalha que possuem protagonistas específicos, como os Crazy 88, Gogo Yubari e o duelo com O-Ren Ishii.
PERSONAGENS E ARCOS NARRATIVOS
VISUALIZAÇÃO CRONOLÓGICA
O Movie Scene Sensing também permite de visualizar os clusters em ordem cronológica, respeitando a sequência narrativa original do filme. Essa funcionalidade ajuda a observar como os grupos mapeados, originalmente dispostos por similaridade temática ou compositiva, se conectam ao longo da progressão narrativa, oferecendo visão geral sobre a relação entre os momentos identificados e a estrutura da obra.
Mapeando a distribuição dos clusters em ordem cronológica
Além de facilitar a análise de relações entre clusters temáticos, a visualização cronológica permite identificar padrões que se repetem ou evoluem ao longo da narrativa.
Aplicar esse módulo do MSS em Kill Bill Vol. 1, ajudou a ver como Tarantino organiza elementos estilísticos e temáticos para conectar arcos e criar transições na estrutura não-linear do filme
Para cineastas e editores, essa funcionalidade pode ser usada como recurso para avaliar o impacto das escolhas de montagem. Para pesquisadores, ela é uma ferramenta exploratória para estudar a lógica por trás da estrutura de filmes complexos.
ORDENANDO CLUSTERS TEMPORALMENTE
MAPEANDO PADRÕES
O módulo de mapas de tópicos do Movie Scene Sensing é uma estratégia de visualização dedicada à análise exploratória de similaridades e padrões emergentes que seriam mais difíceis de identificar a partir da leitura cronológica dos frames.
O Movie Scene Sensing usa as características dos clusters identificados pelos modelos de visão computacional para distribuí-los em um espaço bidimensional. Isso permite investigar de maneira mais intuitiva como determinados padrões compositivos e eixos narrativos de Kill Bill dialogam entre si, fora da lente temporal.
Explorando visualidades para além da linearidade do tempo
IDENTIFICANDO ARCOS, ESTILOS E TEMAS NA NARRATIVA
A disposição dos clusters no mapa mostra as interações que estruturam a narrativa e a estética visual do filme. Sequências conectadas por temas ou estilos visuais aparecem próximas, enquanto padrões contrastivos ocupam posições mais afastadas ou marginais.
Esse arranjo espacial permite observar como Tarantino constrói ligações entre momentos aparentemente desconectados em Kill Bill Vol. 1.
Os clusters dos arcos iniciais — Hospital Breakout e Vernita Green — estão próximos no mapa, indicando similaridades estilísticas identificadas pela ferramenta. Embora pertençam a segmentos narrativos distintos, o agrupamento reflete características visuais compartilhadas, como tons de iluminação e enquadramentos.
O cluster Hospital Breakout inclui cenas no corredor do hospital, no interior do Pussy Wagon e na luta de Beatrix para recuperar seus movimentos. Já Vernita Green agrupa frames do primeiro confronto de Beatrix em um ambiente doméstico, marcado por elementos visuais que contrastam com outras locações do filme, como o House of Blue Leaves, por exemplo.
ARCOS NARRATIVOS I OS PRIMEIROS PASSOS DA VINGANÇA
O Movie Scene Sensing demonstrou sua capacidade de identificar não apenas padrões visuais, mas também conexões estilísticas e narrativas, organizando momentos variados de forma coerente e destacando sua relevância na estrutura do filme.
A partir do mapa, é possível observar que o arco House of Blue Leaves ocupa uma posição central, refletindo sua importância como núcleo narrativo e estilístico de Kill Bill Vol. 1.
A ferramenta também foi capaz de identificar subclusters dentro dessa sequência, mapeando não apenas semelhanças visuais, mas também relações narrativas e estilísticas que caracterizam o trabalho de Tarantino.
Na extremidade inferior, a Anime Sequence, que narra a origem de O-Ren Ishii, foi destacada como uma ruptura estilística pela linguagem visual distinta, ainda conectada ao arco central.
No extremo oposto, o subcluster da batalha com os Crazy 88, grupo de elite de O-Ren, foi segmentado pelo uso de cores vibrantes e pela transição para preto e branco.
O subcluster de Gogo Yubari, guarda-costas de O-Ren, capturou close-ups de sua arma e expressões do olhar. Já o duelo final entre Beatrix e O-Ren, se distancia um pouco dos demais, em função da predominância dos planos abertos e composição mais minimalista da fotografia. Esses subclusters convergem no centro do mapa, consolidando o eixo narrativo de O-Ren Ishii.
ARCOS NARRATIVOS II A CENTRALIDADE DO HOUSE OF BLUE LEAVES
CLOSE-UPS E CONEXÕES
Clusters relacionados a estilos visuais, como Feet Close-ups, Extreme Eye Close-ups e Object Close-ups, aparecem próximos ao centro do mapa gerado pela ferramenta, apontando para características visuais recorrentes capturadas pelos modelos e que sugerem papel de destaque dessas escolhas compositivas na construção visual em Kill Bill Vol. 1.
O cluster de Feet Close-ups conecta cenas como a recuperação de Beatrix no hospital e os movimentos estratégicos em House of Blue Leaves, mostrando como esse enquadramento é recorrente em momentos de preparação ou deslocamento.
Os Extreme Eye Close-ups, por sua vez, aparecem em transições de alta tensão, como os duelos com O-Ren e Gogo Yubari, além de flashbacks que reforçam o peso emocional da narrativa.
27 CLUSTERS
1945 KEYFRAMES
CLIPES E MIXAGEM AUDIOVISUAL
O módulo de produção de clipes do Movie Scene Sensing amplia as possibilidades analíticas e criativas ao exportar os keyframes de cada cluster como microclipes MPEG, recuperando as cenas originais do filme em que esses frames aparecem.
Isso permite ao pesquisador explorar visualmente os padrões estilísticos e temáticos de forma isolada, em uma sequência contínua que representa o cluster inteiro.
O modo Mix permite combinar clusters, criando clipes que exploram conexões entre diferentes grupos. Essa funcionalidade possibilita gerar combinações temáticas ou estilísticas, permitindo comparar grupos visualmente ou criar novas interpretações baseadas nos padrões detectados.
Os clipes podem ser usados para análises detalhadas ou como material para experimentações criativas, oferecendo formas práticas de estudar ou reinterpretar as sequências identificadas pela ferramenta.
Criando clipes e mixando clusters
TRANSFORMANDO CLUSTERS EM CLIPES
O Movie Scene Sensing inclui um módulo para transformar clusters em clipes. A partir dos keyframes agrupados, é possível gerar vídeos que sintetizam as características visuais de cada cluster, como enquadramentos, cores ou padrões compositivos.
MIXANDO CLUSTERS
O módulo de mixagem avança um passo, permitindo combinar clusters de maneira customizável para criar clipes híbridos que sintetizam múltiplos eixos temáticos ou visuais do filme. Essa funcionalidade opera em dois modos principais: cronológico e hierárquico.
Modo Cronológico
No modo cronológico, os keyframes de diferentes clusters são organizados de acordo com sua ordem de aparição no filme, resultando em uma montagem que respeita a progressão narrativa original.
Modo Hierárquico
No modo hierárquico, a ordem dos clusters é definida pelo usuário, permitindo a criação de sequências que priorizam temas ou estilos específicos, reorganizando os elementos do filme conforme uma lógica personalizada.
No exemplo ao lado, utilizamos os clusters de Feet and Shoes, que aparecem em momentos narrativos distintos do filme, para criar uma mixagem que conecta essas cenas em uma única sequência contínua. A montagem resultante reúne os momentos em que o foco nos pés é utilizado na narrativa
DISPONIBILIDADE E ACESSO
No momento, o Movie Scene Sensing é uma ferramenta em desenvolvimento, atualmente restrita a pesquisas em andamento no laboratório. Por enquanto, ela não está disponível para uso geral ou compartilhamento amplo.
Colaborações podem ser consideradas em casos específicos, desde que estejam alinhadas à agenda de pesquisa do laboratório e à disponibilidade da equipe. Propostas de trabalho ou parcerias serão analisadas com base em seu potencial de contribuição para as investigações em curso.
Interessados em explorar possibilidades de colaboração ou investimento podem entrar em contato com o líder do grupo para discussões preliminares: eliasbitencourt@gmail.com.